Pbro. José Juan Sánchez Jácome / ACN.- O santo rosário tem sido essencial na minha formação espiritual, através do qual se acentuou a parte emotiva e o aroma maternal da minha fé cristã. Sua bondade, simplicidade e intimidade tornaram possível que eu não sucumba aos encantos da modernidade, tentando buscar meios mais novedosos, vistosos e sofisticados na vida espiritual.
O santo rosário não só me levava a conhecer cada vez mais a Deus e a aprofundar a minha fé católica, mas também me fazia desfrutar daqueles momentos de oração que se viviam com o selo de Maria, a mulher do silêncio mais eloquente.
Sentia que o santo rosário nos capacitava para não deixar de sentir o assombro pelas coisas de Deus, despertando toda a nossa sensibilidade para estar mais atentos às manifestações do Senhor.
Quando me sentia distraído e não tinha palavras próprias para compartilhá-las com o Senhor, tinha o santo rosário que tornava possível que aqueles momentos não fossem tempo perdido. O santo rosário despertava a minha sensibilidade e me confiava palavras sagradas para confirmar o meu carinho ao Senhor.
Desta forma, fui percebendo que o rosário é uma oração para todos os momentos. Cabem nele toda classe de sentimentos. Se se tratava de dar graças, aí estava o rosário; se havia uma necessidade, aí estava o rosário; se apresentava uma aflição, aí estava o santo rosário; e até nos momentos mais tristes, sobretudo na morte de um ser querido, aí estava o santo rosário.
Nos momentos mais difíceis e quando ante a morte não se pode dizer nada -porque só ficam as lágrimas, a solidão e um nó na garganta-, o rosário punha palavras na nossa boca e sentimentos no nosso coração, provando a doçura e o consolo nos momentos mais amargos da vida.
O que seria dos nossos duelos se não existisse o rosário? Como se afrontaria a morte de um ser querido se não tivéssemos na mão o santo rosário? Como viveríamos esses momentos delicados se não fluíssem essas palavras benditas que lhe dirigimos a Maria, ao estar bloqueados e não ter nada próprio que dizer?
O rosário é uma cadeia que não só une a terra com o céu, mas também nos une estreitamente ao Senhor em qualquer circunstância que passemos. Dizia Santa Teresita del Niño Jesús: “Com o Rosário se pode alcançar tudo. Segundo uma graciosa comparação, é uma longa cadeia que une o Céu e a terra, um de cujos extremos está em nossas mãos e o outro nas da Santíssima Virgem”.
Agora o santo rosário não só me agrada, mas se tornou algo necessário e imprescindível. Embora eu tenha consolidado a minha relação com Deus e aprendido a riqueza da vida espiritual, o rosário continua sendo algo primordial.
O rosário é a oração da gente simples, dos que estão sedentos de Deus, dos que querem crescer na intimidade com o Senhor, dos que não querem impressionar a Deus com os seus discursos. O Cardeal Albino Luciani assinalava:
“Não entendo de contemplação. Fico com a oração simples, a humilde, a das almas simples. Certas pessoas pobres não aprenderam a meditar, mas dizem bem as orações, com o coração, as orações vocais. Santa Bernadette é santa só por isso. Rezava bem o rosário, obedecia à sua mãe”.
Bastava a Santa Bernardita Soubirous a reza do santo rosário para entrar em relação com Deus, como ela mesma o diz: “Eu não fiz estudos e sou muito ignorante, mas sei rezar o meu Rosário e com ele logro me comunicar com o Nosso Senhor e com a Virgem Santíssima”.
O rosário é uma questão de amor que sai do coração. Por isso, quando se critica com ares de superioridade e insolência que o rosário é chato, mecânico e repetitivo, haveria que assinalar que com o rosário podemos oferecer algo por amor a Maria.
O rosário que rezamos por distintas situações, em definitivo, sempre é para ela, embora como sempre acontece nas coisas de Deus, o benefício maior seja para nós. Se alguma vez reages assim e desqualificas o rosário porque é repetitivo, pensa que é para a tua mãe, que é para Maria.
Em outros momentos da vida à tua mãe regalas o que lhe agrada a ela, não o que te agrada a ti. Queres vê-la contente, queres surpreendê-la e por isso pensas no que mais pode provocarle alegria. Intentas fazer tudo o possível para que não lhe falte nada e o que nunca pode faltar-lhe é a tua confissão de amor e os teus detalhes.
A Maria agrada-lhe o rosário. Surpreende-a regalando-lhe o que mais lhe agrada, tendo em conta que o maior benefício será para ti. Até na vida espiritual há que mudar a mentalidade materialista: faz oração não só pelo prazer que experimentes, mas pelo amor que podes expressar a Deus e a Maria.
No seu aniversário e em outros momentos importantes da vida se lhe regala à mãe o que mais lhe agrada. O presente não é para ti, mas para ela. A uma mãe que lhe digas cinquenta vezes que a queres não lhe cansa. E é o que fazemos tomando emprestadas as palavras do evangelho. Por muito que eu seja eloquente para lhe dizer algo, jamais as minhas palavras alcançarão a altura, a largura e a profundidade dessas palavras que lhe disseram a Maria o Anjo e Santa Isabel.
O irmão Carlo Carreto, eremita, que passou grande parte da sua vida no deserto do Saara, comenta sobre o santo rosário: “O próprio do amor é repetir-se com palavras simples e cálidas. Assim que, se você sente a necessidade de alimentar as suas orações com textos bíblicos, faça-o. Mas se se dá conta de que encontra paz e alegria rezando o Rosário, adentrando-se numa oração rítmica e repetitiva, desfrute-a.
Lembre-se disto: se logras rezar o Rosário na sua totalidade sem ter que te preocupar em pensar, mas só para te sentir feliz perto da Mãe de Jesus, regozija-te, porque sem dúvida estás sob a ação do Espírito e é o único que conta quando oramos…
Para aquele que não entende a vida espiritual, a oração do Rosário é sinônimo de algo mecânico, estúpido, inútil. Para quem é ‘espiritual’, para quem avança no caminho da oração, o Rosário é a forma mais simples de ajudar-se a viver de maneira concreta na oração. Eu não tenho medo de afirmar que quem se sente à vontade rezando o Rosário é um contemplativo, ou seguramente avança no caminho da contemplação. Portanto, tenha cuidado de não denigrar o que não conhece”.
Assim pois, quando te digam que o rosário é repetitivo e monótono, recorda-lhes que o atleta repete constantemente os seus exercícios para lograr a excelência; que o artista ensaia centenas de vezes para alcançar a beleza da sua voz; que se faz sempre o mesmo trabalho para procurar um sustento digno; que os enamorados não contam as inumeráveis vezes que se confessam o seu amor; e que os pais repetem com amor a mesma rotina para que os filhos se sintam amados e tenham o necessário.
Com a beleza dos versos, Enrique Menéndez y Pelayo se refere a esta mesma questão no seu poema Al Rosario:
Tu,.. que esta amável devoção supões
monótona e cansada, e não a rezas,
porque sempre repete iguais sons,
tu não entendes de amores e tristezas:
¿Qué pobre se cansou de pedir dons?
¿Qué enamorado de dizer ternuras?
Na infância nossa iniciação cristã consistiu em aprender a dizer orações, como a avemaria, o padrenuestro, etc. Cronologicamente foram as nossas primeiras noções de cristianismo e se converteram em algo muito familiar, nas palavras que melhor sabemos e que se sentem no coração. Foram as nossas primeiras palavras cristãs e talvez serão as últimas, quando chegar o momento de regressar ao Pai.
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