Durante o voo de Istambul a Beirute, ao concluir sua viagem apostólica à Turquia, Leão XIV conversou com os jornalistas sobre sua viagem. O Pontífice destacou o valor simbólico do 1700º aniversário do Concílio de Niceia, agradeceu diretamente ao presidente Erdoğan pela colaboração oferecida durante a viagem e voltou a sublinhar o papel da Turquia como ator diplomático no Oriente Médio e na guerra da Ucrânia. Além disso, deixou aberta a possibilidade de uma celebração ecumênica em Jerusalém em 2033, por ocasião dos dois mil anos da Redenção.
Deixamos a seguir a transcrição da intervenção do Papa Leão XIV com os jornalistas a bordo do avião papal:
Papa Leão XIV (em inglês): Boa tarde a todos. Começarei falando em inglês; acho que a maioria de vocês me entende. Alegro-me em saudá-los. Espero que todos tenham passado tão bom tempo na Turquia como eu. Acho que foi uma experiência maravilhosa.
Como sabem, o motivo principal para vir à Turquia foi o 1700º aniversário do Concílio de Niceia. Tivemos aquela magnífica celebração, muito simples e ao mesmo tempo muito profunda, no local de uma das antigas basílicas de Niceia, para conmemorar o grande acontecimento do acordo de toda a comunidade cristã e da profissão de fé, o Credo Niceno-Constantinopolitano.
Além disso, é claro, houve muitos outros eventos que celebramos. Quero expressar pessoalmente a todos vocês minha gratidão por todo o trabalho que envolveu preparar a visita, começando pelo Núncio, o pessoal, toda a equipe de Roma, é claro, que se ocupou da organização, mas de um modo muito especial ao governo da Turquia, ao presidente Erdoğan e a tantas pessoas que colocou à nossa disposição para garantir que a viagem fosse um sucesso total: seu helicóptero pessoal, muitos meios de transporte, organização, etc., a presença dos ministros em vários momentos da visita… Assim, foi, acho, um grande sucesso.
Alegrei-me muito de ter os diversos encontros que tivemos com as diferentes Igrejas, com as diferentes comunidades cristãs, com as Igrejas ortodoxas, culminando esta manhã com a Divina Liturgia com o Patriarca Bartolomeu. Foi uma celebração maravilhosa, e espero que todos vocês tenham compartilhado essa mesma experiência, assim, obrigado. Não sei se há perguntas ou comentários, só um par, porque estão me esperando para mais fotos.
Pergunta – Barış Seçkin (Anadolu Ajansı): Muito obrigado. No início de sua viagem papal, você fez referência à paz mundial e regional. Nesse sentido, qual é o seu comentário sobre o papel da Turquia na consecução e manutenção da paz mundial e regional, e do que falou com o presidente Erdoğan sobre esta questão?
Papa Leão XIV: Ter vindo à Turquia, e agora, é claro, ao Líbano, nesta viagem tinha, digamos, um tema especial: o de ser, se quiser, um mensageiro de paz, de querer promover a paz em toda a região.
A Turquia tem, por assim dizer, uma série de qualidades: é um país onde a imensa maioria é muçulmana e, no entanto, há ali numerosas comunidades cristãs, embora sejam uma minoria muito pequena, e, ainda assim, pessoas de diferentes religiões podem viver em paz. E esse é um exemplo, diria eu, do que todos buscamos no mundo inteiro.
Trata-se de dizer que, apesar das diferenças religiosas, apesar das diferenças étnicas, apesar de muitas outras diferenças, as pessoas podem realmente viver em paz. A própria Turquia teve, é claro, em sua história diversos momentos em que nem sempre foi assim, e no entanto, ter vivido essa experiência e ter podido falar também com o presidente Erdoğan sobre a paz acho que foi um elemento importante, um elemento valioso da minha visita.
Pergunta – Seyda Canepa (NTV, em italiano): Santidade, com o presidente Erdoğan, além das declarações oficiais, falaram da situação em Gaza, dado que a Santa Sé e a Turquia compartilham o mesmo ponto de vista sobre a solução de dois povos, dois Estados? Sobre a Ucrânia, a Santa Sé sublinhou em várias ocasiões o papel da Turquia, começando pela abertura do corredor dos cereais no início do conflito. Vê você esperança de um cessar-fogo na Ucrânia e de um processo de paz mais rápido em Gaza neste momento?
Papa Leão XIV (em italiano): Certamente, falamos de ambas as situações. A Santa Sé, há vários anos, apoia publicamente a proposta de uma solução de dois Estados. Todos sabemos que, neste momento, Israel ainda não aceita esta solução, mas a vemos como a única solução que poderia oferecer —digamos— uma saída ao conflito que se vive de forma contínua.
Somos também amigos de Israel, e tentamos, com ambas as partes, ser uma voz de mediação que possa ajudar a se aproximar de uma solução com justiça para todos.
Falei disso com o presidente Erdoğan; ele está certamente de acordo com esta proposta. A Turquia tem um papel importante que pode desempenhar em tudo isso.
O mesmo acontece com a Ucrânia. Já faz alguns meses, diante da possibilidade de um diálogo entre a Ucrânia e a Rússia, o presidente ajudou muito a convocar as duas partes. Infelizmente, ainda não vimos uma solução, mas hoje, novamente, há propostas concretas de paz. E esperamos que o presidente Erdoğan, com sua relação com os presidentes da Ucrânia, da Rússia e dos Estados Unidos, possa ajudar neste sentido a promover o diálogo, um cessar-fogo e a ver como resolver este conflito, esta guerra na Ucrânia.
Ele (Matteo Bruni, n. do ed.) sugere que diga uma palavra depois do importante encontro ecumênico em Niceia, e então, ontem de manhã, falamos de possíveis encontros futuros.
Um seria em 2033, aos 2000 anos da Redenção, da Ressurreição de Jesus Cristo; evidentemente, esse é um acontecimento que todos os cristãos querem celebrar. A ideia foi bem acolhida; ainda não enviamos o convite, mas existe a possibilidade de celebrar, talvez em Jerusalém, em 2033, este grande acontecimento da Ressurreição. Ainda restam anos para prepará-lo.
No entanto, foi um encontro muito bonito, porque cristãos de diferentes tradições estavam presentes e puderam participar deste momento.
Obrigado a todos.
