Santa Hildegarda de Bingen nasceu em 1098 em Bermersheim, no vale do Reno (atual Renânia-Palatinado, Alemanha), no seio de uma família nobre. Foi a décima filha de Hildeberto de Bermersheim e Matilde de Merxheim-Nahet, e segundo a mentalidade medieval da época foi oferecida a Deus como “dízimo”, destinada desde o nascimento à vida religiosa.
Aos catorze anos, ela se enclausurou no mosteiro de Disibodenberg junto à condessa Judith de Spanheim, que a havia instruído na recitação do saltério, na leitura do latim, na Sagrada Escritura e no canto gregoriano. Em 1114, professou sob a regra beneditina e, após a morte de Judith em 1136, foi eleita abadessa da comunidade.
Experiências místicas e visões
Desde criança, Hildegarda experimentou visões acompanhadas de luz, cores e música, que interpretou como mensagens divinas. Em 1141, aos 42 anos, recebeu a ordem sobrenatural de pôr por escrito suas experiências. Assim nasceu sua primeira grande obra, o Scivias (Conhece os caminhos), com a ajuda do monge Volmar e da religiosa Ricardis de Stade.
Insegura sobre a natureza dessas revelações, escreveu a san Bernardo de Claraval pedindo conselho. O abade a incentivou a aceitar com humildade o dom recebido, e inclusive intercedeu junto ao papa Eugênio III, que aprovou publicamente parte de seus escritos durante o sínodo de Tréveris (1147-1148). Desde então, Hildegarda foi reconhecida como “profetisa teutônica” e iniciou uma intensa correspondência com papas, reis e nobres de seu tempo, entre eles Frederico Barbarroxa e Leonor da Aquitânia.
Escritora, médica e compositora
Além do Scivias, Hildegarda redigiu tratados de medicina e ciências naturais (Physica e Causae et Curae), onde plasmou conhecimentos de herbolária e terapias de sua época. Também compôs a Symphonia armoniae caelestium revelationum, uma coleção de hinos e cantos litúrgicos, e outras obras teológicas como o Liber vitae meritorum e o Liber divinorum operum.
Em 1150, fundou o mosteiro de Rupertsberg, e em 1165 outro em Eibingen, que visitava semanalmente. Sua fama atraiu a atenção do imperador Barbarroxa, que em 1163 concedeu proteção imperial perpétua ao convento.
Pregadora e reformadora do clero
Surpreendeu seus contemporâneos por sair do claustro e pregar em diversas cidades da Alemanha, denunciando a corrupção do clero, chamando à conversão e combatendo a heresia cátara. Também interveio nas disputas do cisma do Ocidente, admoestando profeticamente o imperador e os antipapas.
Sua firmeza a levou inclusive a desafiar os prelados de Mainz em 1178, quando se recusou a exhumar o corpo de um nobre enterrado em solo sagrado apesar de ter estado excomungado. Defendeu sua postura em uma carta sobre o sentido teológico da música na liturgia, e conseguiu que se levantasse o interdito imposto à sua comunidade.
Morte, culto e canonização
Santa Hildegarda morreu em 17 de setembro de 1179, aos 81 anos. Crônicas da época narram que no momento de sua morte apareceu no céu uma cruz luminosa formada por dois arcos de cores.
Embora sua canonização formal se demorasse, seu culto se difundiu amplamente. Foi venerada como santa desde o século XIII, incluída no Martirológio romano e nas letanias locais. Em 2012, o papa Bento XVI a proclamou Doutora da Igreja e estendeu seu culto à Igreja universal.
Hoje, ela é lembrada como mística, profetisa, escritora, médica, compositora e uma das grandes mulheres da cristandade medieval, cuja voz profética continua interpelando a Igreja e o mundo. Sua festa litúrgica é celebrada em 17 de setembro.
Fonte: Aciprensa
