Por Francis X. Maier
Colorado tem dezenas de estações de esqui. A contagem oficial é 41. Vail e Aspen, Telluride e Steamboat Springs acaparam a maior parte da atenção. Mas abundam pequenas joias como Wolf Creek e Crested Butte. A favorita da nossa família, nos 18 anos que vivemos em Denver, foi Arapahoe Basin. Localizada na Divisão Continental, a apenas 105 km de nossa casa, “A-Basin” era de fácil acesso e um ímã relaxado para os locais. Oferecia algumas pistas para iniciantes, mas o lugar tinha —e tem— poucas frivolidades e pouca paciência com os pretensiosos.
A-Basin atrai o esquiador sério. O teleférico Lenawee Express deixa os esquiadores a 3.797 metros de altitude. Dali, os mais experientes —ou os mais temerários— podem ascender até o topo do East Wall, com suas pistas de duplo diamante negro, a mais de 4.000 metros. Por prudência ou por covardia, nunca fiz o topo. O imprudente pode cair 180 metros. Mas descer esquiando do Lenawee já é em si uma experiência sacramental: a velocidade, o ar feroz e rarefeito, o murmúrio da neve sob os esquis… tudo suspende o tempo.
A verdadeira glória de A-Basin, no entanto, é o sol nascente iluminando a face do East Wall ao amanhecer: um panorama de granito nu, colossal e majestoso. É inumano. Mais que humano. E para qualquer um com olhos e alma, impõe humildade. Como disse Deus a Job: “Onde estavas tu quando eu fundava a terra… quando cantavam juntas as estrelas da alva e aclamavam todos os filhos de Deus?” (Jó 38, 4-7).
Ali, no East Wall, essas palavras ainda ressoam no ar.
Tudo isso vive na memória da minha família. Mas o que o despertou em mim recentemente foi uma conversa com um bom amigo. Ambos amamos o cinema. Ele mencionou seu aborrecimento com diretores superestimados, como Stanley Kubrick, Francis Ford Coppola e Terrence Malick. É verdade que Hollywood cobre seus “gênios” com tanto louvor quanto a lava cobriu Pompeia. Mas quanto a Malick, discordamos. Seus filmes frequentemente têm um pano de fundo cristão, e dois em particular falam com força ao nosso momento presente.
O primeiro é A Hidden Life (2019), baseado na história de Franz Jägerstätter. Este camponês austríaco, nascido fora do casamento em 1907, foi criado como católico, mas viveu uma conversão mais profunda nos anos 30, com a ascensão do nazismo e após seu casamento com Franziska, uma católica fervorosa.
Em 1938, foi o único de sua aldeia a votar contra o Anschluss. Com o aumento das atrocidades nazistas e a pressão sobre a Igreja, tornou-se mais vocal. Chamado para o serviço militar em 1943, recusou-se a jurar lealdade a Hitler, alegou objeção de consciência e ofereceu servir em um papel não combatente. Foi preso e acusado de minar o moral militar. Em agosto de 1943, foi executado. Em 2007, Bento XVI o declarou mártir e naquele mesmo ano foi beatificado.
Malick captura a vida de Jägerstätter e a ternura de sua família com grande habilidade. A cena decisiva ocorre na prisão, quando seu advogado lhe diz que, se assinar uma retratação, será libertado. Franz pergunta: “Terei que jurar lealdade a Hitler?” O advogado responde: “São apenas palavras. Ninguém as leva a sério.” Jägerstätter replica: “Não posso.” E quando ele insiste: “Assine e será livre”, responde: “Mas eu sou livre.”
Porque as palavras importam. Revelam e ligam a alma. As palavras falsas a envenenam. Por isso, o filósofo Josef Pieper descrevia grande parte da linguagem política moderna como um instrumento de violação.
O segundo filme é The Tree of Life (2011), uma obra-prima. Aqueles que buscam explosões, sexo e perseguições de carro se sentirão desconcertados. Eu mesmo a abandonei duas vezes nos primeiros quinze minutos. Erro. O filme está carregado de referências bíblicas e cristãs: desde o título (Gênesis, Provérbios, Apocalipse) até seu início (Gên 1, 2-4; Jó 38, 4-7) e seu desfecho (Jo 1, 5). Requer atenção e paciência. Mas cada minuto vale a pena.
É a história de um homem de sucesso (Sean Penn) em crise de meia-idade, que se lembra de seu irmão morto e de seus pais, representantes de dois caminhos: a mãe, “o caminho da graça” (Jessica Chastain: misericórdia, perdão, amor) e o pai, “o caminho da natureza” (Brad Pitt: ambição, egoísmo, conflito).
O desfecho redentor, com o leve sorriso do protagonista ao descobrir finalmente a beleza que o rodeia, é inesquecível. Também não se esquecem as palavras da mãe: “A única maneira de ser feliz é amar. Se não amas, tua vida passará voando. Faz o bem. Admira-te. Tem esperança.” E as do pai, arrependido: “Queria ser amado porque era grande. Um homem importante. [Mas] não sou nada. Olha a glória que nos rodeia: as árvores, os pássaros. Vivi com vergonha. Desonrei tudo e não notei a glória.”
A lição, suponho, é esta: vivemos em um tempo que fabrica artifícios de nossa vida. Mas Deus permanece. E precisamos notar sua glória.
Sobre o autor:
Francis X. Maier é pesquisador sênior em estudos católicos no Ethics and Public Policy Center. É autor de True Confessions: Voices of Faith from a Life in the Church.
